Nesta rubrica, Joana Bértholo responde a 10 perguntas indiscretas sobre livros e literatura.
Livros e leitores. Fixações, obsessões, paixões assolapadas, ódios de estimação. Perguntas de algibeira, umas discretas, algumas indiscretas. Algumas perguntas de gosto duvidoso, outras a pedir provocação ou uma espécie de exaltação. O que falamos quando falamos de livros e aquilo que estamos disponíveis para revelar. Gente conhecida, anónimos, bons leitores, todos gente com opinião.
Qual a primeira memória que tem como leitora?
Demorou-me a gostar de livros «só de letras» pois comecei por ser ávida leitora de banda-desenhada. É dessas coleções de quadradinhos, em formato A4, que guardo a primeira memória de pegar numa história e não a conseguir largar. De o mundo em redor desaparecer.
Qual o pior defeito de um escritor?
Subestimar o leitor.
Qual é a sua santíssima trindade da literatura?
Silêncio, tempo, escuta.
Relê ou não gosta de se banhar duas vezes no mesmo rio?
Comecei a reler. Até aos 30 anos não reli, angustiava-me. Pensava em todos os títulos que ainda não tinha lido. Depois, com a experiência de preparar aulas, ou só para reavivar o que me marcou tanto num livro, percebi o valor da experiência, e agora releio. Mas ainda me angustiam todos os títulos por ler…
Que lugar quis conhecer por causa de um livro?
Não tenho esse impulso. Em tendo de escolher, então, Flatland — O Mundo Plano, de Edwin Abbott Abbott.
Que livro gostava de ter escrito?
O I Ching; o Tao Te Ching; as Cartas a Lucílio, de Séneca; ou A Divina Comédia», de Dante Alighieri. Mais recentes: A Vida: Modo de Usar, de Georges Perec; ou A Noite e o Riso, de Nuno Bragança.
Escrever é um super-poder?
Não.
Qual o livro que mais ofereceu?
Cândido ou O Otimismo, de Voltaire; mais tarde, Libertação Animal, de Peter Singer.
Qual o livro cuja leitura está constantemente a adiar?
Muitos. Demasiados. Aparecem constantemente títulos novos — e não me refiro às novidades.
Ler é a melhor arma para a ignorância?
A ignorância pode ser só uma fase no processo de conhecer, e também um livro pode conter ideias ignorantes. É difícil imaginar um livro do qual nos afastemos mais ignorantes, mas há muitos que largamos igualmente ignorantes. Há textos que só confirmam o que já queremos acreditar acerca do mundo. É preciso ir ler longe do nosso círculo imediato de crenças e ideias. Então, sim, ler torna-se um labor para lá da ignorância.
A autora
Joana Bértholo nasceu em Lisboa, 1982. É licenciada em Design pelas Belas-Artes de Lisboa; e doutorada em Estudos Culturais, na Alemanha. Foi com o Erasmus para a Bélgica, Leonardo para Berlim, e SVE para Buenos Aires. Em 2019, foi para Maputo numa residência do Camões — CCM e da CML. Os seus três romances, dois livros de contos e um livro juvenil foram todos publicados pela Caminho. Diálogos Para o Fim do Mundo recebeu o Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho 2009; O Museu do Pensamento foi considerado melhor livro infantojuvenil em 2018, pelo Festival Literário de Fátima e pela Sociedade Portuguesa de Autores; e Ecologia foi finalista de prémios como o APE, PEN Clube, DST, Casino da Póvoa, e semifinalista do Oceanos. Tem outros textos noutras editoras, com destaque para a Dois Dias e as Edições Prado.
Joana Bértholo é convidada da 14.ª edição do LeV — Literatura em Viagem, que será totalmente em streaming, na página de Facebook da Câmara Municipal de Matosinhos. Conheça a programação do evento aqui.
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